terça-feira, 5 de janeiro de 2010

No divã vermelho



Início da tarde, exatamente às 12 h e 18’, Severina caminhava pela rua infinita até chegar ao seu destino, local do encontro semanal. Rua singular aquela, visto que, todas as ruas possuem fim, menos essa. O encontro semanal é com a psicodramatista, chamada Luz (interessante como o seu nome condiz com sua aura). Aquela não era uma quarta-feira qualquer... Sentou-se no divã vermelho (cor escolhida propositalmente, afinal, estudos afirmam que aflora as emoções) e nesse dia foi desenvolvida uma atividade de autognose, diferente das desenvolvidas até então. Mesmo com aquela ansiedade dissipadora, Severina fechou os olhos e concentrou-se somente no timbre agudo da voz da Luz... Permitiu-se imaginar caminhando por um lindo campo desses a perder de vista, plano, encoberto por capins bailando ao vento, que de lindo talvez só o verde dos capins ou céu imensamente azul, tão azul como se nuvens não existissem ali e unido a um sol cintilante daqueles que cegam os olhos. Caminhando, Severina se deparou com uma montanha (e que montanha), mais íngreme que o Pico da Bandeira. Subir essa montanha era algo impossível para ela, preferiu então, contorná-la e continuar sua caminhada. Logo, Severina avistou um castelo, grande castelo horrendo (a sua arquitetura remetia a uma aparência das executadas no século XVI). Passou pelo portão do então, obsoleto castelo, que se encontrava apenas encostado e caminhou por entre terras e folhas secas caídas no chão, interessante, era como se lá o outono fosse a estação permanente durante o ano. A árvore plantada ali não tinha vida, apenas tronco seco e fosco (ela nem vegetava mais)... Adiante, estava a entrada do castelo. Severina caminhou talvez 1,05 m ou 1,33 m e adentrou na fortaleza em frangalhos. Que triste imagem vista por ela, somente uma mesa de mogno com 16 assentos, capaz de reunir uma grande família para um almoço ou jantar, mesa empoeirada e servia como sustentação para grandes, médias, leves e flutuantes teias de aranha, tecidas por entre o tempo da morte da alma e a sua súplica pela vida. De repente, apareceu um mago (tão feio quanto o castelo) e eu não acreditava na existência deles, pensei que existiam somente nas ficções dos filmes, ele parecia mais um bruxo... Severina tinha o direito de fazer três perguntas importantíssimas a esse mago (ser acinzentado, possuidor da cor de concreto). Depois de tanto pensar fez a sua primeira pergunta: perguntou por que o céu é azul e o mago então respondeu que o céu é o reflexo do mar, por isso possui essa cor. (Mas não eram perguntas importantes? As outras duas perguntas são mais insignificantes que essa e isso torna desnecessário escrevê-las aqui). Antes de retornar ao campo, Severina ganhou um presente desse mago e decidiu ver o seu presente durante a caminhada. Voltando pelo mesmo percurso, passou novamente pela montanha e desviou (subir seria realmente impossível), queria se sentar para abrir o seu presente, mas aonde sentar, ali só existia capim... Caminhou, caminhou, caminhou e encontrou uma árvore. Árvore linda aquela, robusta, detentora de imensos galhos, capazes de sombrear tudo em sua volta, sem deixar o ambiente melancólico. Ao se sentar nesse aconchego, abriu o seu presente... Foi tomada por uma imensa surpresa, o seu presente era uma agenda (agenda?!), sim uma agenda com uma capa dourada que elucidava mais que uma lâmpada amarela de 100 v. Suas páginas eram brancas, podendo ser associadas à nuvens desenhadas no céu ou a um rio repleto de algodão. Severina foi saindo desse campo e voltando para o seu divã... Luz então, entrou em cena e foi analisar com Severina as suas imagens unidas às suas sensações... O campo representa a VIDA e como viver uma vida plana, sem emoções, sem sentimentos? A montanha representa os problemas, tão grandes que enfrentá-los era algo impossível. O castelo seria a visão que Severina tinha de si mesma... Severina demonstrava uma coragem, falsa coragem, que a possibilitou adentrar no castelo e consequentemente o encontro com o seu “eu”... O mago era Severina conversando com ela mesma e veja bem, tentando se iludir... Mas, a mesa, a árvore e a agenda, o que significavam??? Escutando essa interpretação, Severina parou e analisou minuciosamente a sua vida. O funesto é que Luz tens razão!!! Ela não queria admitir que estava feia, vazia, morna ou melhor, mais que fria, congelada, vivendo em um mundo fantasiado, se envolvendo superficialmente em suas relações e vendo somente desgraça aonde existe graça, risos e gargalhadas. Desilusão da vida, sendo triturada e devorada pelos sentimentos maléficos e oportunistas da dor e da solidão... A sua casa já não era sua, a sua cama estava pequena, o seu coração e a sua dor não cabiam em si. Sim, Luz tens razão! Essa era a verdadeira Severina! Como dizia Drumonnd, e agora José? Agora é que Severina encontrou a luz para sua vida e sua agenda, o presente do mago era o indício de que seus dias não deveriam ser vãos, era preciso cor, vida, sentimento, envolvimento... O divã naquele dia proporcionou um diferencial, Luz possibilitou Severina elucidar os seus olhos penumbrados. E a sua relação com a árvore e a mesa? Ahhh! Isso Severina me não revelou.

2 comentários:

  1. Adorei! meu divã é vermelho, poderia linkar este post ao meu blog? fico agradecida. Linda mensagem amei!!! Grande abraço Raquel
    www.raquelfreirepsicologa.blogspot.com

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    1. Olá Raquel! Somente hoje, após TANTO tempo resolvi abrir o blog. Pode linkar sim! =)
      Vou visitar o seu blog... Abraço! Michele.

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